Doping – o que é, casos conhecidos e consequências

Recentemente fomos confrontados com um caso de doping nos Jogos Olímpicos de Inverno 2022 em Pequim, quando as medalhas da patinadora Kamila Valieva foram suspensas e a mesma foi banida dos jogos onde participava. Tal como Valieva, também o ano passado a velocista nigeriana Blessing Okagbare foi apanhada nas malhas do doping e este ano foi suspensa por 10 anos das competições.

Valieva, banida dos JO 22′ e com as medalhas suspensas.
Okagbare, suspensa por 10 anos das competições.

Mas o que é exatamente o doping? Quais são (alguns) dos tipos de doping? Quem já foi apanhado nessa teia? Quais as consequências? É o que este artigo lhe irá revelar.

  • Um pequeno resumo do que é o ”doping”

Doping é uma palavra de origem inglesa que significa o uso de drogas, de substâncias ou de métodos específicos que visam aumentar o desempenho de um atleta durante uma competição.

O doping é proibido nos desportos porque, além de prejudicar a saúde, trata-se de uma conduta antiética do atleta ao proporcionar uma vantagem competitiva desleal em relação aos outros atletas. O controlo de dopagem é feito através do exame antidoping que consiste na recolha de uma amostra de urina do atleta imediatamente após o fim de uma competição. Também é frequente a realização de exames surpresa nos atletas. O doping representa assim um flagelo que coloca em causa a imagem do desporto.

  • Formas de Doping

As razões que levam os atletas a procurarem a vitória para as suas equipas, países ou empresas patrocinadoras transformaram-nos numa espécie de mercadoria. As alternativas possíveis para alcançarem melhores performances e a grande evolução nas áreas do treino e da tecnologia obrigaram os organizadores do desporto internacional a estabelecerem certos limites. Limites estes que têm fundamentos éticos e técnicos e, por isto mesmo, vão-se alterando com o passar dos anos.

De acordo com Reys (1989) o uso de drogas no desporto só é valido, excecionalmente, se existir indicação médica, sendo o uso dessa droga supervisionado pelo médico.

Neste contexto é importante remetermo-nos para o que são as drogas:

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define droga como “toda a substância que, pela sua natureza química, afeta a estrutura e o funcionamento do organismo”. Jervis, conhecedor da área, refere que “droga é todo o conjunto de substâncias químicas induzidas voluntariamente no organismo com o fim de modificar as condições psíquicas e que, enquanto tal, criam mais ou menos facilmente uma situação de dependência no sujeito”.

O termo “droga” faz referência a um elevado número de substâncias com distintos efeitos sobre a percepção, o pensamento, o estado de ânimo ou as emoções, com diferente capacidade para produzir dependência e com significados diferentes para aqueles que as consomem.

Fonte: RTP.

Discute-se o verdadeiro alcance dos efeitos do álcool ou formula-se a questão de saber os efeitos do consumo de Cannabis. Os derivados da cannabis motivam um maior debate social. As substâncias de síntese protagonizam inumeráveis conversas, mas nem sempre se dispõe de informação exata acerca dos seus efeitos.

Os esteroides anabolizantes suscitam cada vez mais preocupações pela sua utilização que se estende aos ginásios ou a jovens que querem melhorar a sua imagem corporal.

Há que referir ainda os medicamentos psicoativos – os psicofármacos, ou seja, substâncias receitadas por médicos que muitas vezes são utilizadas indevidamente para fins que não os terapêuticos.

O tabaco, o álcool e as xantinas (chá, café e cacau) constituem um grupo de substâncias, que pelo seu carácter legal, fazem parte das nossas vidas. O seu consumo quotidiano pode levar-nos a pensar que carecem de riscos, mas basta uma breve olhadela para os efeitos a curto e longo prazo do tabaco ou do álcool para nos darmos conta da importância dos diversos problemas que produzem.

Finalizando este capítulo, de acordo com o World Anti-doping Agency, entre os desportistas, as drogas mais utilizadas são:

  • Esteroides
  • EPO (eritropoietina)
  • Estimulantes
  • HGH (Hormona do crescimento humano)
  • Agentes mascarantes
  • Marijuana
  • Narcóticos

  • Efeitos do Doping a curto e a longo prazo

Analgésicos Narcóticos:

Este efeito de “mascaramento” da sensação de dor que os analgésicos narcóticos provocam pode ser prejudicial aos atletas, pois a ausência ou diminuição da sensação dolorosa pode levar a que um atleta menospreze uma lesão potencialmente perigosa, levando ao seu agravamento.

Outros efeitos prejudiciais destas substâncias ao organismo são a perda de equilíbrio e coordenação, náuseas e vómitos, insónia e depressão, diminuição da frequência cardíaca e ritmo respiratório e diminuição da capacidade de concentração.

Exemplo de analgésicos narcóticos. Fonte: Cliquefarma.

Estimulantes:

Os estimulantes, como a cocaína, efedrina e a cafeína, são usados para conseguir os mesmos efeitos da adrenalina tal como o aumento da excitação. Além disso, podem ainda aumentar a capacidade de tolerância ao esforço físico e diminuir o limiar de dor.

Apesar destas consideráveis vantagens que os estimulantes podem trazer aos atletas para que estes melhorem o seu rendimento, estas substâncias podem provocar alguns efeitos secundários potencialmente prejudiciais ao organismo, tais como a falta de apetite, a hipertensão arterial, palpitações e arritmias cardíacas, alucinações e diminuição da sensação de fadiga.

Fonte: Manual da Química.

Agentes anabólicos:

As pessoas que consomem agentes anabólicos, ou seja, substâncias derivadas de testosterona, ganham força, potência e maior tolerância ao exercício físico, sendo principalmente por causa destes últimos efeitos que os anabolizantes se disseminaram tão rapidamente no meio desportivo, destacadamente em atletas como halterofilistas, lutadores de artes marciais e, eventualmente, em todos os tipos de desporto que envolva a chamada força explosiva.

Estudos científicos mostram que o uso inadequado de anabolizantes pode causar sérios prejuízos à saúde, tais como o aumento da agressividade, comportamento antissocial, alterações permanentes das cordas vocais em mulheres (a voz fica mais grave), aumento do músculo cardíaco e uma possível consequência de enfarte do miocárdio em jovens, aumento da produção da enzima transaminase, atrofia dos testículos e dor no saco escrotal, ginecomastia (crescimento das mamas nos homens), esterilidade feminina e masculina, crescimento excessivo de pelos nas mulheres, aumento na massa muscular pelo depósito de proteínas nas fibras musculares, redução do bom colesterol (HDL) e aumento do mau colesterol (LDL), aumento do número de hemácias jovens e diminuição dos glóbulos brancos e hipertensão arterial.

Fonte: o Jornalzinho.

Diuréticos:

Estas substâncias são usadas de modo a reduzir rapidamente a massa corporal de atletas participantes de desportos onde há categorias de pesos (o boxe, o judo, o halterofilismo e o karaté são alguns exemplos destes desportos).

Também são utilizados como tentativa de aumentar a excreção urinária e com isso eliminar mais rapidamente eventuais substâncias dopantes, caracterizando assim o efeito de mascaramento do doping.

Além destes dois efeitos principais, os diuréticos podem causar alguns efeitos secundários prejudiciais ao organismo tais como, a desidratação, cãibras musculares, diminuição do volume sanguíneo, doenças renais, alterações do ritmo cardíaco e perda acentuada de sais minerais.

Fonte: Área de Mulher.

Hormonas Peptídicas e Análogas:

Apesar de haver 4 tipos diferentes de hormonas, estes têm consequências muito parecidas, entre essas: Hipertensão, leucemia, anemia, derrames, problemas na tiróide e aumento de probabilidade de ocorrência de ataques cardíacos.

Fonte: Globo Esporte.
  • Casos conhecidos de doping

São vários os casos conhecidos de uso de doping, entre esses decidi escolher os que irei falar de seguida:

– De 2015 até aos dias de hoje, a Associação Internacional das Federações de Atletismo manteve a suspensão da Rússia de todas as competições, devido à descoberta de um esquema generalizado de doping entre atletas russos de elite, entre 2011 e 2015, com conhecimento e apoio do Estado. A Federação Russa de Atletismo decidiu recorrer da suspensão apenas depois da reabilitação da agência antidopagem do país, aprovada com base em duas condições consideradas indispensáveis pela AMA (Agência Mundial Antidopagem): a admissão de culpa por parte do governo do país e o acesso às provas armazenadas na sede do laboratório, em Moscovo.

– No exame antidoping dos Jogos Olímpicos de 2009, foi encontrado, na urina da ginasta brasileira Daiane dos Santos, furosemida, um diurético usado para controlar o peso. A atleta defendeu-se dizendo que a substância estava presente num remédio de tratamento estético que ela estava a usar, no entanto a Federação Internacional de Ginástica considerou-a culpada e suspendeu-a por 5 meses.

– Ben Johnson nas Olimpíadas de Seul, em 1988, conquistou a medalha de ouro após quebrar o recorde mundial nos 100m rasos (9,79 segundos), mas tal feito foi anulado quando, nos testes antidoping, foi encontrado na sua urina estanozol, um esteroide anabolizante capaz de aumentar a massa muscular e melhorar o desempenho na corrida, tendo sido suspenso por dois anos.

– Após o seu exame, enquanto jogava contra o Bari (clube Italiano) em 1991, ter detectado a presença de cocaína no sangue o jogador Diego Armando Maradona (jogador do Nápoli, um clube italiano) foi suspenso por 15 meses. No entanto a suspensão não foi o suficiente para o fazer parar de usar doping. Em 1994, pleno Mundial de futebol, foi detectado na urina do jogador efedrina, um estimulante usado pelo jogador para recuperar das más condições físicas. Foi novamente suspenso, desta vez por 18 meses.

– O ciclista norte-americano, Lance Armstrong, que venceu sete vezes seguidas, de 1999 a 2005, a Volta a França e foi considerado o maior ciclista da história, ao ser pressionado pelos resultados de uma investigação federal, no programa de entrevista de Oprah Winfrey, o atleta confessou ter usado substâncias proibidas. Admitiu ter usado EPO (uma hormona que aumenta o número de glóbulos vermelhos de modo a permitir ao sangue levar mais oxigénio aos músculos), testosterona, dopagem sanguínea e cortisona e admitiu que também tentou convencer os colegas a usarem substâncias ilícitas. Armstrong perdeu todos os títulos conquistados desde 1998 e foi proibido de realizar o desporto. Para além disso perdeu a maioria dos seus patrocinadores, alguns dos quais abriram um processo contra ele.

  • O que é a ADOP?

A Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) é a organização nacional antidopagem que tem a seu cargo o controlo e a luta contra a dopagem no desporto, nomeadamente enquanto entidade responsável pela adoção de regras com vista a desencadear, implementar ou aplicar qualquer fase do procedimento de controlo de dopagem.

A ADoP colabora com os organismos nacionais e internacionais com responsabilidade na luta contra a dopagem no desporto.

  • Em suma…

Com este artigo podemos chegar à conclusão de que o doping é uma prática altamente perigosa, pois todas as técnicas de dopagem apresentam elevados perigos para a saúde das pessoas. Isto deveria ser o suficiente para os atletas deixarem de usar doping, não se devendo deixar levar pela ambição e colocar em causa a própria vida.

Existe um elevado controlo antidoping, levado a cabo pela ADoP (Autoridade Antidopagem de Portugal), mas cada vez existem mais novas maneiras de dopagem e contornar o controlo existente. Assim, apesar do controlo ser cada vez mais rigoroso, há sempre atletas que ignoram as questões éticas do desporto.

O grande motivo da utilização de todos estes estimulantes é a busca pela perfeição e o objetivo de querer ter um rendimento máximo, e nesses quesitos os desportistas não olham a meios para atingir os seus fins. No entanto, todos os atletas deviam ter em consideração que não importa ganhar sempre, mas sim participar e dar o melhor de si sem a utilização de meios tão antiéticos.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Escrito por: Madalena Caldeira Batanete

Editado por: João Miguel Fonseca

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