A Europa dos separatismos

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Nas últimas semanas, o fervor independentista da Catalunha protagonizou uma considerável atenção mediática, tanto em Portugal, como no resto da Europa. O braço de ferro entre o governo central de Madrid e a Catalunha tem atingido proporções inimagináveis após o referendo ilegal pela independência da região autónoma. O separatismo parece estar a ressuscitar na velha Europa, um sinal de feridas por sarar do passado. E o caso catalão, embora seja o mais discutido nestes últimos tempos, não é único.

Ainda que outros assuntos estejam no topo das preocupações internacionais, o caso da República da Irlanda e da Irlanda do Norte continua a estar em cima da mesa: ainda este ano, as eleições da Irlanda do Norte mostraram uma clara divisão da população no que toca ao futuro da região, sendo que os votos colhidos pelo partido a favor da união com o Reino Unido foram apenas ligeiramente superiores aos votos colhidos pelo partido a favor da integração da Irlanda do Norte na República da Irlanda.

Os vários movimentos separatistas italianos também são de fazer referência, tal como o separatismo da Baviera na Alemanha. Para além da Catalunha, Espanha também batalha com outros desejos independentistas, como é o caso do País Basco. França, embora à primeira vista um Estado homogéneo, também se vê a braços com o separatismo, essencialmente na Córsega. Por outro lado, e também de certa ambiguidade, esse mesmo separatismo é notável em territórios como a Alsácia ou a Bretanha.

A Norte, o caso paradigmático do povo sami, que se encontra espalhado por territórios de países como a Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia e que reclama por uma maior autonomia nestes territórios. A Bélgica, o ‘’coração’’ da União Europeia, também é desafiada pela tensão entre os Belgas flamengos e os Belgas francófonos. No leste europeu assistiu-se há relativamente pouco tempo ao separatismo na Ucrânia pela anexação da Crimeia pela Federação Russa, esta última também um mosaico de povos e etnias que coabitam no território do Estado russo. O caso do Kosovo também é uma ferida fresca na realidade europeia, e a memória do processo de ‘’balcanização’’ e da carnificina associada a este ainda está presente.

Para além dos muitos desafios que assolam a Europa e em especial a União Europeia, o problema dos separatismos parece ressuscitar em momentos de maior tensão política, económica e social. Os conceitos antitéticos de separatismo e federalismo estão, neste momento, no cerne da preocupações da Europa unida. A cautela e astúcia são palavras-chave para os líderes europeus nesta altura de crise. Jean Claude Juncker já demarcou a posição da UE no que toca aos separatismos, afirmando que ‘’não quer uma União Europeia de 90 estados daqui a 15 anos’’. Mas só o tempo dirá como se irá desenrolar este capítulo de ressurgimento do fervor separatista na Europa que, do ponto de vista do espetro político, se encontra associado tanto à esquerda como à direita.

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Escrito por: Andriy Voyevoda

Editado por: Inês Queiroz

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